The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Tinham-se passado onze meses desde que tinha tido o acidente. Nessa altura, tinha poucas certezas até onde podia chegar a minha recuperação, se seria parcial ou total, só tinha uma convicção, voltaria a Coimbra para estudar! Podia ter optado por ficar em Lisboa mas todo o apoio que recebi naquela cidade, merecia esta decisão. Outra das razões que levou-me a tomar esta resolução, foi precisar mais uma vez de sair de Lisboa e dos acontecimentos que sucederam à minha volta durante esse tempo.

#1 Acontecimento
Ainda na altura em que estava internado em Coimbra, o insólito bateu-me à porta outra vez! Tinha sido operado à pouco tempo e certo dia estava acamado com a minha mãe sentada a meu lado quando toca o seu telemóvel. Falou pouco mas a expressão na sua cara dizia tudo! Algo grave tinha acontecido! Olhei-a nos olhos e senti um aperto no coração. Perguntei: - O que foi? Ao que ela tentou evitar responder com um Nada! Mas eu sabia que algo tinha sucedido! Insisti e por fim ela disse-me. O meu irmão tinha acabado de ter um acidente de mota! Comecei a chorar, sentia que era grave, muito grave! Ela na altura não sabia dizer-me como ele estava, não tinham dado pormenores ao telefone mas eu não acreditava pensava que era muito grave e ela não queria contar-me. Foi de imediato para Lisboa, eu que não estava bem psicológicamente, fiquei pior! Salvou-me o apoio que tive do Nando, colega de enfermaria, que muito apoio me deu.
Felizmente foi uma perna partida e um mês de gesso. Mesmo assim quem via os meus pais, devia achar, no mínimo, bizarro as suas vidas. Durante três semanas, andarem todos os dias duzentos quilómetros para cima para estarem com um filho e outros duzentos para estarem com o outro!

#2 Acontecimento
Os meus pais tinham se separado, quando fui estudar para Coimbra. Voltaram a viver juntos por altura do acidente. A minha mãe por uma questão de eu necessitar de apoio e estabilidade familiar. O meu pai, com a ilusão que tudo estava bem outra vez. Foram momentos muito tensos quando voltei para casa, sempre num entra um, saí o outro. Muitas discussões. Foi difícil abstrair-me desta situação. O meu pai nunca perdou-me por ter sido eu a por um ponto final nesta situação como não entendeu quando disse, à sua frente, a um psicólogo que era preferível uma separação final àquela existência.

#3 Acontecimento
Quando voltei para casa deram-me a notícia. O Alfredo tinha morrido envenenado. Veneno para ratos que espalharam no relvado da praceta onde morava. Eu estava no hospital com os meus pais, o João no hospital Curry Cabral. Foi a Isabel que deu com ele.
O Alfredo, era o cão da minha mãe, que embora sendo de uma raça que eu não aprecio, afeiçoei-me bastante àquele vassoura a pilhas! Eu e o João faziamos a vida negra ao desgraçado! Era um yorkshire-terrier e a paixão da minha mãe.

#4 Acontecimento
A minha ligação à minha avó materna, era muito forte desde miúdo. Penso nela e nas palavras que diziam o quanto acreditava em mim, sempre que preciso de de me auto-motivar. Era uma figura muito presente na minha vida, como também era importante. Ela estava muito doente, quanto tive o acidente. O meu Avô e a minha mãe, diziam que ela não teve a real percepção da gravidade da sua doença, ocultaram-lhe até ao fim o seu problema mas sinceramente eu sinto que ela tinha essa consciência.
Um dia em Coimbra, enquanto ainda estava internado, tivemos uma conversa que nunca mais irei esquecer. Esperou pelo momento certo, estávamos sozinhos, disse-me que tinha ido a Fátima e que tinha feito uma promessa. A promessa era uma troca, consistia na minha melhora e retorno aos estudos pela sua vida. Ao ouvir isto, fiquei tenso, disse-lhe que era um disparate e tentei não chorar pois já sabia da gravidade da sua doença.
Nunca mais voltei a lembrar-me desta conversa até ao dia em que ela faleceu, desde esse dia ficou-me gravada na memória a promessa. Ela faleceu duas semanas depois de eu voltar para Coimbra.


Um mal nunca vem só!

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