
O meu pai e o Ni, são amigos de longa data, desde os tempos de adolescência onde entravam em ralis nacionais. Quando regressámos do Brasil, o CAC voltou a realizar o Rali Rainha, já não como rali nacional mas numa espécie de convívo-desportivo, entre antigos pilotos que tinham participado no nacional. Foi assim que ganhei o bicho dos ralis e passámos a frequentar Coimbra uma vez por ano.
Cheguei ao CAC, com o intuito de confraternizar mas saiu-me o tiro pela culatra! Colocaram-me logo a trabalhar, a fazer os sacos para os participantes do Rali de Iniciados na Figueira da Foz, que se disputava nesse fim-de-semana! No fim da noite o Ni perguntou-me, se no sábado queria ir ver o rali e respondi afirmativamente. Já tinha planeado ir ao concerto de James no domingo, com uns amigos de Soure e por isso até calhava bem, preenchia-me o fim-de-semana.Arranquei de mota, no sábado logo pela manhã, em direcção à Figueira, não queria perder o inicio do rali e por isso saí mais cedo, foi o que valeu-me de chegar a horas! Como em tudo na minha vida, tem sempre de existir um contra-tempo, pneu furado algures em terra de ninguém! Ao fim de uns quilómetros a empurrar a mota, sobre um sol abrasador, lá encontro uma oficina e mudaram-me o pneu, perdi algum tempo com isto e acabei por chegar quase à hora de partida do primeiro carro. A azáfama era muita, todos a correrem de um lado para o outro, ao fim de alguns cumprimentos, lá encontrei o Ni. Sem perder tempo, disse-me que estava com falta de pessoal para o gabinete de imprensa e que por isso eu faria parte da comitiva! Explicou-me sucintamente o que tinha de fazer e foi-se embora, fiquei a apanhar do ar, deixando-me à maré do desconhecido! Sinceramente, acho que ele já tinha planeado esta situação!
O gabinete de imprensa de um rali, é o que tem o trabalho mais longo durante um rali, pois é o primeiro que começa a trabalhar e o último a fechar portas! O gabinete estava montado no stand da Renault em plena marginal, eramos quatro elementos e acho que portei-me à altura. O trabalho consistia em recolher os tempos dos participantes, passar as informações para as equipas, criar a tabela de resultados e afixar-los, e por fim fazer o press-release para a imprensa. Extenuante!
As horas passavam e eu, a ver a minha vida andar para trás! Já eram cerca das duas da manhã quando fechámos o gabinete e ainda tinha de fazer a viagem de volta para Coimbra, eis que entra o Ni a dizer que eu ficava na Figueira pois precisavam de mim no dia seguinte! Eu começei logo a dizer: - Não tenho roupa! Não tenho onde dormir e a mota não pode ficar na rua! Não posso mesmo ficar, para mais tenho de ir para Coimbra, comprei um bilhete para o concerto de amanhã à noite e não vou faltar! Ao que ele responde: - Não há problema! Já tens quarto reservado no hotel, a mota fica aqui no stand e o rali acaba a meio da tarde de amanhã! Não tive hipótese! Ele já tinha planeado tudo e acabei por ceder!
Eu e o resto da equipa fomos petiscar na cervejaria ao lado do stand, ainda não tinha jantado e a barriga já dava horas! Travessas de camarões para entrada, seguido de um belo bife sempre acompanhado de canecas de cerveja. O esforço do dia foi recompensado e quando já não conseguia comer mais nada, o grupo lembra-se de irmos beber um copo a qualquer lado! Lá fomos, todos atafulhados num carro para um discoteca e lembro-me que embora o meu estado não fosse dos melhores, resisti e não era o que estava pior, mas que não saí de lá direito, aí isso não saí! Com a brincadeira eram cinco da manhã quando cheguei ao hotel, deitei-me e como estava estoirado, ferrei por completo.
Passado uma hora e meia estavam a acordar-me, eram seis e meia da manhã e era preciso abrir o gabinete às sete! Ainda era noite e só tive tempo de tomar um banho a correr, fazer uma bucha e seguir para o stand! Abrimos o gabinete e cada um tinha uma cara pior que o outro. Lá fiz o meu trabalho e ao fim da tarde, como o Ni nunca mais vinha, despedi-me e retornei a Coimbra. Não ia faltar ao concerto! Do rali só consegui mesmo ver os carros no parque! Que excitação!
Estava de rastos mas lá tive forças para ir a casa arranjar-me e mudar de roupa. Jantei qualquer coisa e segui para o local do concerto. Encontrei-me com a Sara e os amigos de Soure, estava a morrer mas mantive-me estóicamente até ao fim! Ao terminar o concerto eles ainda queiram ir para algum lado e aí acabaram-se as forças! Recusei a oferta, despedi-me e fui para o vale dos lencóis, não há quem aguente e no dia seguinte havia aulas.
2 comments:
É estranho...Fomos amigos até aos 15, 16 anos, e depois reencontrámo-nos já perto dos 30. As memórias que tenho não são as que escreves aqui. São as festas de aniversário em tua casa, os jogos de futebol, os primeiros namoros, as aulas de Saúde lado a lado e os trabalhos de Educação Visual que me fazias, a maçã que religiosamente tiravas da frutaria da Alameda a seguir ao almoço...
Pelas tuas histórias tento perceber o que foram os últimos 15 anos, ou parte deles. Também podia sabê-las numa esplanada, a bebermos uma imperial e a pôr a conversa em dia. Mas antes tínhamos de escolher o país. Por isso passo por aqui e leio as histórias, mesmo sem a imperial.
A vida tem destas coisas... Deixamos de privar com os amigos por motivos diversos mas as memórias, tal como os amigos, o tempo não consegue apagar.
Também guardo com muito apreço o nosso tempo de Académico e futeboladas, as primeiras aventuras e descobertas (if you know what I mean!). São histórias que de certeza vou colocar no blog.
Agradeço-te o facto de apareceres por aqui para saberes mais da minha vida, mostra o valor que dás à amizade que nunca perdemos.
Um abraço do tamanho do mundo!
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