The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Aos dezanove anos tive que deixar-me das motas e enquanto dedicava-me a Alcoitão e à minha recuperação, perdi tempo e lá comprei a carta de condução, sim leram bem, comprei a carta com um almoçito, à bela maneira de Portugal, fácil e económica! Não estava para correr o risco de falhar o código outra vez e por isso, através de uns contactos lá conheci um instrutor e consegui passar no exame! Melhor mesmo, foi ter conseguido falhar dezoito, sim dezoito perguntas! Não olhei para as perguntas limitei-me a escrever o meu nome e colocar cruzes!
O meu pai ofereceu-me um automóvel novo, como tinha prometido desde que recordo-me de ser gente. Foi um Opel Corsa 1.4 de caixa automática, tecto de abrir, kit para telemóvel (algo muito raro na altura) e de cor cinza metalizado. Fiquei feliz da vida com a notícia mas toda a história deste carro é bizarra, a começar pela sua entrega e a acabar na maneira como foi parar à sucata.
Esperei e desesperei pela entrega do carro, levou quase quatro meses a chegar às minhas mãos pois era naquela altura o único Corsa, a ser construído na Europa, de caixa automática. Estive mesmo para desistir dele em detrimento de um Micra, que demorava três semanas mas o vendedor do stand dizia que era para a semana e mais outra e sucessivamente assim foi passando o tempo e como já estava pago... Quando o fui buscar, já estava de volta aos estudos em Coimbra, fui ao stand da Opel em Chelas com o meu pai numa segunda-feira. O vendedor bem tentou dar-me algumas luzes sobre o carro mas eu queria era pegar no automóvel, não fosse ele desaparecer, estava atrasado para ir para Coimbra tinha aulas nesse dia! A única coisa que retive foi relativamente à caixa automática que consistia nas seguintes indicações: P= Parking, para engatar o carro quando parado. R= Reverse, para pôr a marcha-atrás. D= Drive, colocava todas as mudanças e note-se! Para reduzir bastava tirar o pé do acelerador que o carro reduzia sozinho! Que bela informação saiu-me esta! Já vão perceber o que estou a dizer...
Fiz a viagem para Coimbra todo contente! Passou-se a semana e quis surpreender a minha mãe, mostrando-lhe o carro que ela ainda não tinha visto e por isso decidi quando voltava para o fim-de-semana, de seguir direito para Paço d'Arcos, sítio onde a minha mãe tinha uma churrascaria. Já era noite e começou a chover, fiz a auto-estrada toda do norte, entrei em Lisboa na segunda circular e fui apanhar a A5, vinha perto dos noventa quilómetros hora quando vejo uma fila de trânsito na subida para Linda-a-Velha e Carnaxide. Tirei o pé do acelerador, à espera que o carro entre em redução e começei a travar. Bela dica, a do vendedor! O carro entrou num género de ponto-morto e ao travar, bloqueou as rodas e principiou a ganhar mais velocidade devido ao piso molhado! Trezentos a quatrocentos metros depois, o pé cada vez mais a fundo no travão, a deslizar por entre carros até parar. Resultado? Frente toda desfeita, traseira de um Xantia rasgada ao meio! Saí ileso, tremia que nem varas verdes, a esposa do proprietário do Citroën berrava comigo, só se calou quando reparou nas canadianas enquanto eu tentava encaixar o logotipo na grelha, que tinha recolhido do chão. Eram os nervos!
Depois da polícia de trânsito ir-se embora e de assinada a declaração amigável, o Corsa trabalhava e lá segui para Paço d'Arcos. Eu sinceramente não sei como consegui conduzir o resto do caminho, ia a pensar porque raio o airbag não tinha disparado, lembro-me de pensar - É preciso um tipo morrer para isto trabalhar! Carro novo com quatro dias e lá consegui produzir o efeito de surpresa pretendido à minha mãe!

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