The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Desde miúdo os meus pais me proporcionaram a possibilidade de conhecer o mundo. Adoro viajar! Conheço meio mundo e devo isso à metalidade dos meus pais de sempre me levarem com eles! No verão, enquanto a maioria dos amigos ia para o Algarve, eu rumava para destinos exóticos.
Quando voltei para casa, depois de São José e da CUF, o meu pai achou por bem irmos passar quinze dias de férias à Grécia incluindo um cruzeiro às ilhas! Eu opus-me veemente à ideia! Enjoo em barcos de grande porte, tinha que utilizar a cadeira de rodas para grandes distâncias e tinha a perna engessada, o que não ajudava em nada para movimentar-me nos portos. Corria o risco de cair à água e afundar-me! Não, não e não! Grécia não!
O meu pai recorreu ao meu avô, durante um jantar, para convencer-me. Como ele é médico e já tinha feito cruzeiros, achou que seria fácil convencer-me! Dizia o meu avô: - Só vais sentir uma "leve brisa", não te apercebes que estás num barco! Não é possível enjoar! Não conseguiu e continuei a ser contra tal ideia. Mesmo perante a minha resposta, no dia seguinte o meu pai tratou de tudo e comunicou-me que já não havia volta a dar! Íamos de férias para a Grécia!
Já fazia algum tempo desde que entrara pela última vez num avião. A viagem até nem correu mal se retirármos o pormenor que a minha perna inchou com a pressão da altitude e que com gesso não é das sensações mais agradáveis! Mas pronto! Foi um mal menor desta viagem e que até foi suportável!
Estivemos quatro dias em Atenas. A cidade é recheada de história, banhada por monumentos variados, muito bonita mas com muita pena minha é repleta de poluição! Ficámos instalados num hotel com vista para a acrópole e o partenon. Uma das imagens que guardo de Atenas, era a vista nocturna que se tinha no último andar do hotel, da acrópole. Simplesmente fabulosa! Um dos dias, o meu pai acordou com um taxista um tour pela cidade, fomos de taxi passear e conhecer os cantos à cidade! Estivemos no partenon, no templo de Diana, na Pláka (a zona mais antiga de Atenas, como a nossa baixa), no estádio olímpico e chegámos a visitar sítios que não são do conhecimento dos turistas, como a gruta onde esteve preso Sócrates. Ao fim do dia já não podia ver pedras à minha frente!
Na primeira noite, estava ansioso para ir jantar! Adoro chegar a estes lugares e provar os pratos típicos! Tinha em mente a Moussaka, prato muito apreciado pelos gregos, que tinha ouvido ser uma iguaria. Decidimos jantar no hotel, pois tirando a Pláka, não existem restaurantes na cidade e os melhores restaurantes atenienses são os dos hoteis. sentei-me com o meu pai e nem olhei para a lista, disse de pronto: - Moussaka! Sentia curiosidade e água na boca! Qual não é o meu espanto, de olhos esbugalhados, a tentar perceber o que colocaram à minha frente! EMPADÃO!!! Mas que raio? Moussaka é empadão! Fui enganado!
Bem chegou o dia de zarpar no cruzeiro, olhei para as escadas que davam para a escotilha e começei logo a ter maus presságios! Isto não vai ser fácil! A custo, o meu pai, lá empurrou a cadeira de rodas e ao entrar vira-se a hospedeira de bordo: - Coitados! Já tinham planeado a viagem e aconteceu-vos este imprevisto? Ao que o meu pai replicou: - Não nós gostamos é de aventura! A cara dela quando ouviu a resposta do meu pai, não tem descrição. Enquanto amanhava-me no interior da cabine, o louco do meu pai. Sim louco! Inscreveu-nos em todas as visitas! O que fazia com que todos os dias tinha de levantar-me às sete da manhã para tomar o pequeno-almoço. O horário era rigoroso, das sete e meia às oito, quem estava nessa altura no compartimento comia, quem não estava esperava pela hora de almoço! Andava sempre numa correria! Saía do pequeno-almoço e apeava-me para ir ver uma ilha. Voltavamos à hora de almoço, comia à pressa porque tinha outra visita a seguir ao almoço e estivemos assim até ao penúltimo dia! Já não havia forças para mais visitas e desistimos das duas últimas!
Todas as noites, havia um espectáculo no salão principal. Um romeno com ar de Serafim Saudade, cantava umas músicas enquanto umas bailarinas dançavam. Na primeira noite quando procurava lugar para ver o espectáculo "a leve brisa" fez com que o meu pai, que pesa pouco por sinal, caísse em cima da minha perna! Dores? Sim muitas! Estamos a falar em mais de cem quilos! Na última noite, quando o navio passava na convergência do mar Mediterrâneo e o Mar Egeu, a "leve brisa" pôs em sentido os passageiros e as meninas que dançavam no palco! Eramos uns dez gatos pingados a ver o espectáculo, os outros passageiros estavam nas suas cabines a terem um dilema com os enjoos! As meninas em palco era vê-las aos papéis a tentar não cair! O Serafim agarrado a um dos postes e eu, mesmo com uma dose de dois comprimidos para o enjoo por dia, não deixava de sentir-me nauseado! O meu pai dizia: - Vês isto não é giro! E eu pensava Só podes estar a gozar comigo!
Conheci várias ilhas, entre elas Mikonos, Creta e Santorini. Quando atracamos em Santorini, preparava-me para a visita e ao chegar à escotilha percebo que não estavamos no porto! Tinha de saltar para um bote, para levar-me a terra! Eu pensava: - Mas tão loucos! Eu com a perna assim não vou saltar para dentro de um bote! O bote estava a um metro e meio de distância da escotilha, eu tinha de saltar e um marinheiro agarrava-me! Eu disse-lhe: - Nem pensar, se voce não me agarrar eu vou parar ao mar e afundo-me com o peso do gesso! O meu pai, de pronto, tomou um medida! Empurrou-me! Quando chegamos a terra olhei para a ilha e disse para o meu pai: - Nem penses que vou lá acima! (reparem na imagem!). A única maneira de chegar à vila era através de uma viagem pela rampa em paralelepípedos montado em burros! Eu bem vi aquelas turistas americanas "levezinhas" montadas nos bichos e os burros a patinarem por todos os lados! Fiquei cá em baixo na esplanada a beber uma cerveja, não ia arriscar a cair e levar com o peso do bicho em cima de mim!
O meu pai teve a paga por esta triste ideia do
cruzeiro! As ilhas gregas são muito acidentadas e para todo o lado ele tinha que empurrar a cadeira de rodas! Durante uma visita, iamos em plena rampa, por sinal bem inclinada e começo a ouvir o meu pai a falar sozinho: - Vens à Grécia, fui eu que paguei a viagem e ainda por cima tenho de te empurrar para todo o lado! Eu viro a cabeça para trás e pergunto: - Estás a falar comigo? Ao que ele replica: Não! Estou a falar desta maldita cadeira de rodas que está a dar cabo de mim! Desatei a rir! Foi a vingança!





P.S: Vão aos links saber um pouco mais sobre estas ilhas... a história do albatroz em Mikonos é muito gira.

5 comments:

Anónimo disse... 12:08 da manhã  

Olá, achei muita piada ao teu blog. Quanto a Atenas, os melhores restaurantes não são os dos hóteis, são as "tavernas"... mais acessíveis em termos de preço, mas onde se come a comida genuína grega. Os melhores locais para se comer são efectivamente as tavernas, principalmente aquelas menos conhecidas dos turistas e onde vão comer sobretudo os gregos. Tb há bons restuarntes mas é preciso saber escolhê-los e muitos deles são caros, embora valham o dinheiro. Vou conhecer Santorini em Setembro. Conheço outras ilhas mas Santorini é quase um capricho meu que ainda não tinha podido realzar até aqui.

Ah, as melhoras já agora! :)

Carla

A classe média e alta, pelo menos em Atenas, tem muito a têndencia para irem aos restaurantes dos hoteis.
No fim-de-semana que estive lá, o hotel estava à pinha de gregos vestidos a rigor! Claro que existem algumas tavernas aceitáveis, mas posso garantir-te que fui jantar duas vezes a hoteis e comi muitissimo bem!
Como digo no texto, infelizmente não tive possibilidade de ver Santorini fiquei cá em baixo, seria um autêntico suícidio! Para mim e para o burro!
Quanto às melhoras... agradeço-te mas já não são necessárias ;)
Estou bem fisicamente..tendo em conta o passado!

Se não for inconveniente, podes dizer-me como foi que descobriste o blog? É só por curiosidade!

Anónimo disse... 12:33 da manhã  

Sim, eu fiquei no Omonia Grand Hotel, cheguei a jantar lá e gostei muito da comida. Mas talvez o ambiente informal das "tavernas" tenha ajudado à festa. É que eu provei de tudo e já comia à grego... naqueles pratinhos pequenos estilo prato de entrada. Mandava vir uns quantos pitéus e fazia o meu próprio menu de degustação... eeheh Boa vida!

Descobri-te a fazer umas pesquisas no motor de pesquisas do blogspot. Estava à procura de uma ajudinha suplementar para a minha viagem a Santorini e, casualmente, tropecei no teu texto e gostei bastante. ;)

Anónimo disse... 12:37 da manhã  

One more thing... não tenho nada contra os restaurantes de hotel, chego a deslocar-me de propósito a algusn onde sei que há bons chefs a única questão é que, quando me encontro num local diferente, gosto de me misturar com os cidadãos locais e acho que é a melhor forma de se conhecer a cultura deles: frequentando os mesmos lugares que eles. :)

Oi,tudo bom?
Estou organizando minha viagem para a Grécia e dei um pulo no seu blog para pegar algumas dicas. Devo dizer que seu ´pai foi um verdadeiro Hércules, realizando muito mais que 12 trabalhos para te levar a todos esses lugares de difícil acesso, ainda mais com cadeira de rodas. à ele envio meus cumprimentos,pois ele mostrou o que é ser família !! Se você tiver mais algumas dicas sobre Atenas para me dar, seria ótimo.
Cumprimentos desde o outro lado do Atlântico.
Ravie
ravella_@hotmail.com

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