The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Pela primeira vez desde que retornara a Portugal, Nuno, agora adolescente, encontra estabilidade na sua curta vida. Ao dar entrada no colégio particular, descobre um ambiente mais equilibrado, as boas notas retornaram e faz os primeiros amigos fora da única vida que conhecia, a sua praceta.
É neste colégio, que ganha a alcunha que para sempre irá estar associada à sua pele. Este episódio nasce, devido à sua descendência Franco-Alemã, os seus apelidos encontravam-se mal escritos na pauta e num dos primeiros dias de aulas, uma das professoras ao fazer a chamada e ao chegar ao seu nome, não obteve resposta. Voltou a pronunciar o nome e mais uma vez não obteve resposta. A professora, já alterada por o aluno não responder à chamada, volta a repetir o nome que se encontrava na pauta. Desta vez Nuno respondeu. - Setôra, deve estar a chamar por mim, mas esse não é o meu nome. Ao que a professora replica: - Se está na pauta, é porque é o seu nome! Nuno, que não era miúdo de se conter, responde no mesmo tom: - Setôra, eu posso não saber ler, nem escrever, mas ainda sei o meu nome! Foi a porta aberta para a risota da turma e desde esse dia, Nuno passou a ser tratado entre os colegas, pelo nome que constava na pauta e do qual nunca mais iria conseguir desassociar-se.
Depois deste episódio, Nuno tornou-se rapidamente conhecido no colégio, não só por culpa da alcunha por que era tratado mas também pelo jeito fácil como comunicava. Era também um dos rapazes mais populares no pátio, por ser dos melhores praticantes de futebol. Os intervalos entre as aulas eram passados no pátio a fazer jogos com outros colegas, onde era sempre escolhido para a melhor equipa.
O último ano tinha sido de difícil adaptação. Um liceu estatal, onde a criança encontrou miúdos que forçaram à perda da sua inocência, o corte de relações entre o seu Pai e a sua Querida e a primeira percepção de perda. A morte do seu Avô Papi, que os cigarros teimaram em levar para o céu, envolto no fumo do último cigarro. Passado este período de adaptação a uma nova realidade, a novas sensações, o miúdo parecia ter encaixado e encontrado o rumo a seguir.

Foram quatro anos, em que o adolescente foi crescendo num ambiente saudável e harmonioso. Dedicou-se à sua paixão pelo futebol, foi convidado por um clube, perto de casa, para criar uma equipa e participar nos jogos da cidade de Lisboa, onde obteve um honroso quarto lugar. Seguiu-se o campeonato nacional de futsal durante três anos, onde o ponto alto, foi ser vice-campeão de Portugal e ter sido o terceiro melhor marcador do campeonato. Dava tanta importância ao futebol, que chegou a mentir à mãe para ir treinar um sábado de manhã, quatro dias após ser operado a uma apendicite. Fizesse chuva, frio, nada retinha-o de estar presente em todos os treinos e jogos.
Durante este período, talvez resultado da sua postura comunicativa e do sorriso sempre presente, teve os seus primeiros namoricos mas como nunca tornava-os prioridade na sua vida, acabavam sempre rapidamente sem guardar lugar relevante na memória e sem fazerem mossa ou rancores de ambas as partes, sobrava sempre a amizade.
As notas escolares eram exemplares, sem nunca ter de se esforçar, bastando estar atento nas aulas para assimilar a matéria e conseguir um bom desempenho nos exames. Entre os colegas, evidenciava-se a sua personalidade forte e a sua boa disposição, sempre pronto para criar umas tropelias inocentes que a todos fazia rir.
A vida familiar era equilibrada e rotineira, dividida entre os passeios familiares com os pais e o seu irmão, e os fins-de-semana com a sua Querida e o Padrinho, que entretanto tinham contraído matrimónio.Continuava a ir com frequência, passar os finais de tarde ao café, para beber da sabedoria da sua Avó, que alternava com as tarde passadas com os colegas do colégio.
O rapaz era um adolescente feliz com a vida que tinha e isso emanava na sua postura do dia-a-dia.

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