The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida


As horas correm, como o riacho por baixo da ponte de madeira. A lua percorre suavemente a sua viagem até oferecer ao palco o sol. O rádio dedica a playlist da noite ao casal que se mantêm inerte no sofá, jogados num entrelaçar de abraços envolventes, abstraídos do movimento na rua, focados no seu mundo.
Uma transformação vagarosa, sublime em todo o esplendor do tempo, onde cada gesto é executado com a preciosidade da contemplação, com a mais profunda sensação de prazer. Um sorriso que irradia, um olhar que aquece, um afago que envolve. Aqui está ela, aqui está ele, aqui estão eles, em tempo e espaço que é seu por direito.
Aqui, longe dos olhares são um, onde a saudade não segura o ímpeto de correr em busca do vício de se ser um só. Corpo que treme com a aproximação, deseja e beija com ardor sem se tocar. A face de uma realidade consagrada num caminho, que não emite palavras, mas devolve-as em chorrilho no reflexo de um olhar. Assim, emerge na imensidão da noite, a simbiose que permite viver.
O sol já se anuncia e a valsa dos corpos, dá lugar ao desprendimento, ao receio do término que se aproxima silenciosamente com o clarear do dia. A razão da inconstância que mata qualquer ilusão ou réstia de esperança. O sol já a pique, seca, mirra, mata a semente, antes de esta poder germinar.
O dia terá o seu final, voltando a dar lugar à beleza da noite, mas trará também o receio do cansaço, da repetição, do pavor de se constipar e a opção mais segura dos corpos apartados, imbuídos de orgulho, sem nunca correr o risco de espreitar o luar, deixam-se prostrar na segurança que um aconchego enganador, a que chamam lar mas não o sentem.

Contagem Ao Segundo