O mundo encardido, escuro, que outrora fora cintilante, é jogado no cesto da roupa suja, sem descaro de consciência. Foi usado durante dias seguidos, até o seu tecido perder o tom vivo, manchado, marcado com vincos. No escuro do fundo do cesto, aguarda impaciente pela lavagem da sua alma. O tempo corre, mas o mundo convicto do seu traçado, sabe que chegará o dia da sua limpeza.
Finalmente atirado para a máquina de lavar, há que apagar a existência daquela mancha. Na memória ecoará a sensação que a marca atingiu-o fulminante, sem certeza de poder apagar o seu registo. Ainda é possível centrifugar o mundo, contorcer na saída até que caia a última gota de água. Húmido, o mundo deixa-se ficar no estendal, até que o sol venha presentear-lo com o milagre da pureza do seu calor, onde a nódoa que marcou o mundo, parte sem deixar vestígios.
O mundo agora exala a lavanda, cheira a lavado, trás consigo o aroma fresco, como que acabado de sair da embalagem, vivendo na esperança de ser reutilizado num novo dia. É um mundo como novo, preparado para novas aventuras, sem receio de se sujar novamente, porque é esse o seu destino. Ser sujado, enrugado, manchado, vincado, lavado e por fim seco, num ritual interminável até que o seu tecido deixe transparecer o desgaste no seu colarinho ou um qualquer pequeno buraco, que retire orgulho no seu uso.
Nessa altura findará o seu propósito, como qualquer outro mundo, despejado para um amontado de outros mundos, ansiando, que uma outra alma o queira levar vestido com brio. É um mundo desbotado, não tão brilhante como já fora mas rico de histórias para contar a quem quiser ouvir. O mundo só quer ficar no mundo de alguém.
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