The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Num início de ano próspero em viagens, foi gladiando contra os ponteiros do relógio, que na passada sexta-feira, consegui entrar no comboio em direcção ao Porto. Destino final Viana do Castelo ou a aposta numa nova abordagem à vida.
Aos primeiros movimentos da carruagem, fui perdendo-me nas imagens em andamento de um adeus a Lisboa, carregadas de esperança e na ilusão de uma mudança de atitude que não levassem a um outro adeus. Foi revezando o tempo em pensamentos e na música do mêpêtrês que durante quatro longas horas mantive-me imóvel no meu banco até atingir Campanhã.
À minha espera na estação estava o bólide do atleta e a Marta na condução com roteiro traçado em gps a uma francesinha no Capa Negra. Neste restaurante, conhecido por servirem a típica iguaria do Porto, existe na ementa três variedades de francesinhas: Com ovo, com batatas e a especial. A especial, é muito, muito especial porque não leva ovo, nem batatas! Preferimos optar pela francesinha que não vem impressa no menu. A que é servida com ovo e batatas! Após o repasto, já mais relaxado mas com o peso do mundo sobre os ombros, seguimos viagem para Viana. A quantidade de horas que se devem à cama, obrigaram ainda, a uma pequena paragem para um café em Neiva, servido por uma silhueta atípica carregada de sotaque visiense. A chegada a Mujães, coincidiu com o regresso a casa, da nossa "Isabelita" da sua actuação no Santoinho.
O tempo foi correndo nas asas da noite, em conversas que se tornavam infindáveis, servidas com whisky do defunto no aconchego convidativo do sofá, até as quatro da manhã. Com o chegar do amanhecer, encontrava-me já sozinho na sala, deambulando na internet em busca de um sinal de mudança. A vontade e a esperança, impeliam-me de não arredar pé do computador. Foi nesta postura que os olhos traiam o sorriso que pela manhã recebeu a minha anfitriã. Com os fantasmas dos velhos do Restelo a viverem na minha mente, desisti por momentos e cedi a três almejadas horas de descanso.
Na saída para almoço tardio, volta a leve disposição de fingir, esquecer o que se deixou para trás, saboreando a refeição com brincadeiras, gracejos e calcorreando a cidade e os seus recantos em busca de distracção numa fuga de pequenos nadas, pequenos tudo. Apela-se à defesa do bom ambiente, erguendo-se a máscara da brincadeira, que as olheiras teimam em delatar. Percorre-se Santa Luzia, em busca da fotografia perfeita com um misto de fé e crença. Os caminhos do monte a encherem os pulmões do que é puro e no contraste do dia cinzento, com o verde do campo, a mente a fugir para pensamentos impróprios para altura de relaxamento e prazeres da vista.
Ao cair da noite, jantar a dois com a Martolas, enquanto a Caty se faz a caminho da gravação do dvd no Santoinho. Um arroz de tamboril, acompanhado com o vinho que tanto tinha procurado em ementas de jantares que se queriam especiais. Os empregados uma simpatia e a companhia merecia novo chamamento da armas fazendo-me cumprir com o mote. A palhaçada teria início.
Para meu agrado, a nossa Isabel Silvestre, arranjou maneira de nos fazer entrar na festança do Santoinho. O que muito contribuiu para um momento bem passado, a perder a lembrança da realidade. A noite já ébria pintou a manta, rodeado do que é típico, da nossa cultura, a nossa herança. O orgulho nas nossas raízes estampado com brio em cada interveniente ou espectador, forçou em mim uma boa disposição, repleta de risos genuínos, a diverti-me como se o amanhã e o passado tivessem sido barrados à entrada daquele espaço. Já alta ia a noite quando regressámos à morada da Catarina. A estafa fez-me bem, os copos ajudaram a quebrar a resistência para mais uma noite em claro, perdido na escuridão. Acabei por adormecer profundamente, levando comigo uma anestesia de qualquer raciocínio. Dormir por dormir.
Domingo, com um acordar já nostálgico, prosseguimos viagem para o Camelo. O restaurante onde as minhas papas de sarrabulho aguardavam-me impacientes, enquanto eu ia salivando. Os três em estado de descompressão, foram degustando os petiscos embalando na moleza de um adeus anunciado desde a chegada. Resistindo ao cansaço, ainda houve tempo para um último passeio até à praia fluvial do Rio Neiva. O resto da tarde foi passada em casa. Martolas a ecoar o tractor, prostrada no sofá a retemperar energias para a viagem, a Caty de atenção virada para a televisão e eu no retornar da busca do sinal perdido em offline.

Já entrando na noite, fizemos-nos à estrada, deixando promessas à Caty de uma nova visita para breve, com mais tempo, mais convívio e mais amigos de sempre. O caminho para Lisboa foi passado numa batalha com a repetição do cd culminando com a passagem para a rr e o relato do meu Benfas, obrigando-me de certa maneira, a fugir ao olhar que cada vez mais contemplava o futuro na tempestade, que se aproximava a cada quilómetro que fazíamos. Porque nem a sombra de quem sou me transforma em alguém melhor, acabo por fazer descer a cortina do palco, em doces ilusões de esperança num amanhã que já não existe.
De qualquer maneira... Thanks Caty, thanks Martolas, por momentos fizeram-me esquecer o mundo cinza e recarregar energias para as batalhas contra a minha própria sombra.

Contagem Ao Segundo