The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

A vida têm sido repleta de aventuras, de emoções e acontecimentos. Cada tempo têm o seu tempo mas Coimbra foi uma cidade que recheou-me a vida. Com ela aprendi bastante, tornei-me mais maduro e acima de todos os valores, conheci o verdadeiro significado da amizade. Como costumo dizer a quem é estudante - Só é estudante quem esteve em Coimbra, os outros resumiram-se a tirar um canudo.
Houve uma determinada altura em que dentro dos amigos, criou-se um grupo mais restrito, com maiores afinidades. Sem qualquer planeamento, naturalmente começámos a ir almoçar juntos a outros sitios menos habituais. Almoços que se prolongavam pela tarde dentro fazendo-nos esquecer as aulas e trabalhos práticos que nos aguardavam. Dois, três carros no máximo seguiam ruma às mais variadas paragens de Coimbra e arredores. Num desses repastos só parámos quando chegámos a Cantanhede! Pelo caminho iamos tirando fotografias uns aos outros, trocavámos a máquina em pleno andamento! Faziamos as maiores caretas e loucuras! Coisas do género de o primeiro carro a parar nos semáforos, aguardar que ficasse amarelo para arrancar deixando o colega de trás atrapalhado ou em faixas únicas conduzir a dez à hora, recebendo uma ovação de buzinadelas contínuas do parceiro! Era um grupo bem divertido, unido e muito especial. Hoje já todos somos adultos e com vidas preenchidas pelas responsabilidades inerentes à idade.
Não me recordo como despoletou-se estas tropelias. Do nada começámos a fazer malandrices aos carros uns dos outros. Só me lembro que começou-se por retirar pneus aos carros deixando-os sobre tijolos. Ao fim do dia era ver um grupo de pessoas, em plena risota, à volta do carro, enquanto o proprietário resignado com a brincadeira, voltava a colocar o pneu. As brincadeiras foram-se tornando mais intensas e complexas e ao fim do dia, era grande a expectativa entre os alunos para saber qual tinha sido a loucura do dia e quem era a vítima! Um dia a vítima foi o André, que possuia um Seat Marbella, um carro que se desmonta todo com uma simples chave de fendas! Retirámos os bancos da frente e o traseiro e trouxemos para dentro da ARCA, entrámos no bar e fizemos dos bancos do carros as nossas poltronas, enquanto jogávamos uma sueca! As matrículas foram afixadas no quadro de informação e o coitado do André, porque ninguém se descozia do paradeiro delas, perdeu cerca de uma hora até dar com elas!
É óbvio que eu sendo um dos galvanizadores destas situações, um dia também sofri na pele as consequências! Já andava desconfiado que o próximo alvo a abater seria um dos meus carros. Por uma questão de paixão maior pelo Crx, decidi preservá-lo às brincadeiras e deixei-o em Lisboa umas duas semanas. Andava com o Corsa, desconfiando sempre de todos e tendo muito cuidado com as chaves. Não foi suficiente! Um dia estava dentro do carro a ouvir música, à espera que acabasse a hora de almoço. Nesse dia estava um sol abrasador e achei melhor deixar uma brecha no tecto de abrir, para não encontrar o carro um forno quando acabasse as aulas. essa frecha não teria mais que dois centímetros de altura! Passei a tarde descansado e não desconfiei de nada!
O plano foi muito bem engendrado e acabei por dar os parabéns aos obreiros. Foi sem dúvida a melhor tropelice de todas! Como nós frequentávamos o curso de design gráfico, tinhamos uma relação estrita com o jornal de Coimbra. Os maquiavélicos dos meus colégas, aproveitaram-se disso e foram pedir as aparas do jornal desse dia. Passaram horas a enfiar aparas de papel para dentro do meu carro, através da brecha do tecto de abrir, até conseguirem encher totalmente o espaço interior do carro! Para que fosse ainda maior o meu espanto, forraram o carro todo com páginas de jornal de maneira a que eu não percebesse a surpresa que iria encontrar lá dentro. Quando terminaram as aulas e saio a porta principal percebi logo que tinha chegado o meu dia! Um grupo de alunos já rodeava o meu carro e esperava-me com altos risos. Abriram uma clareira e pude vislumbrar o Corsa todo repleto de jornal. Comecei logo a meter-me com os meus colegas com o seguinte comentário: - Sinceramente estou desiludido, estava à espera de qualquer coisa mais complexa! Eles expectantes pelas minhas reacções seguintes, alargavam os sorrisos e na altura não compreendi. Comecei a desembrulhar o carro e ao visionar o estado em que estava o interior do Corsa, fiz uma cara de espanto que despoletou a gargalhada geral!
Momentos de confraternidade, como estes nunca comprovei em qualque outra escola ou universidade do país. Um sentimento maior que a amizade. Que existiu e existe entre um grupo de pessoas que conviveram diariamente durante quatro anos. Tenho muito orgulho e digo-o em voz alta para que todos me oiçam. Eu fui um estudante de Coimbra!

Contagem Ao Segundo