The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Quando apareceram os Jogos da Cidade de Lisboa, eu era um miúdo que disfrutava do seu tempo a jogar à bola no colégio ou no jardim. Adorava o desporto, fiquei intusiasmado com a ideia de poder participar mas guardei quase até à última para ir à junta de freguesia inscrever-me. No dia anterior ao fecho das inscrições, fiz-me ao extenso caminho do jardim até à alameda! Entrei na junta e com a minha ingenuidade de criança patente, pedi para me inscreverem. Achava que seria colocado numa equipa! Recebi a notícia que teria de formar uma equipa de pelo menos dez jogadores!
Ao ouvir a minha conversa com a secretária da junta, um senhor que por lá laborava veio falar comigo. Disse-me que era presidente de um clube e que se até ao dia seguinte conseguisse arranjar os jogadores suficientes, oferecia-se para nos inscrever como jogadores do clube! Achei o máximo, podia jogar num clube, com direito a camisola, treinador e lanche no final dos jogos! Mas onde iria arranjar eu nove jogadores? Não ia desistir desta oportunidade única!
Fui para casa, contei à minha mãe o que se passara na junta e comecei a fazer uma lista dos amigos com jeito para a bola. Tal qual um prospector de talentos, comecei a fazer a minha lista. Consegui chegar à meia dúzia de unidades mas deparei-me com o problema da idade de dois deles. Eram mais novos! Estavam excluídos mas ainda dava para formar a equipa. Todos os elementos eram meus colegas do Colégio Académico, de diferentes anos e turmas com os quais estava habituado a jogar nos intervalos das aulas.
No dia seguinte de manhã, lá andava eu feito barata tonta! Aproveitava os dez minutos dos intervalos para desafiar e convencer os meus amigos a se inscreverem. A todos tive de explicar a história e com o poder de persuasão de um empresário, conseguia entusiasmar-los e com que assinassem a ficha de inscrição! Ao fim da tarde tinha as dez fichas completas! Saí disparado para a junta, encontrei-me com o senhor Carlos mas não tinha reparado num pormenor! Faltava a assinatura dos encarregados de educação, visto sermos todos menores.
Corri para casa, encontrei a minha mãe e contei-lhe o que se tinha passado. Ela começou a ligar para casa dos meus amigos para falar com as outras mães e depois de ter o seu consentimento, ia falsificando as assinaturas. Era uma falcatrua menor para tão grande causa. conseguimos completar as fichas e assim consegui inscrever a nossa equipa.
Os anos passaram e relembrei-me desta história depois de um dia, no trajecto para o emprego, ter passado por um restaurante do qual já não guardava memória, mas que automaticamente se avivou cristalino. Sorri para mim e revivi aquele dia. Foi no restaurante "Os pneus", propriedade do sogro do Paulo Almeida, nosso treinador, que fomos todos celebrar o final do torneio. Aquela equipa formada em cima do joelho teve direito a homenagens do clube pela conquista de um honroso quarto lugar!
Peço desculpa por não lembrar-me de todos os jogadores mas aos que ainda recordo: Luís Faria, Zé Fausto, Pedro, Nuno Magalhães, Bruno Evangelista, Carvalheira, Miguel, Godinho, Filipe, Bruno Reis, Veiga, Nuno Delgado... A todos o meu obrigado por terem feito do sonho realidade. Alguns anos depois fomos vice-campeões de Portugal e quem diria que a base desta equipa foi feita de um dia para o outro? De fazer roer de inveja Mourinhos e companhias.

Contagem Ao Segundo