Já lá vão quase quatro meses desde a minha visita forçada à colónia de férias. Na altura, o acontecimento deveu-se à inconsciência desta geração morangos com açúcar, que talvez por estar a ficar velho ou porque não vislumbro nesta geração, o conceito de valores e respeito que me foi incutido, traz-me à superfície o sentimento de revolta e preocupação.
Preocupa-me a inconsciência, com que os adolescentes dos nossos dias são irresponsabilizados pelos seus actos, pelos próprios paizinhos que não sabem disciplinar os filhos e que não permitem que outros lhes chamem à razão da má educação que oferecem ou a falta da mesma. Mais preocupante, é que os pais destes meninos são os mesmos que viveram intensamente o 25 de Abril, na adolescência, são aqueles que sabem o que custou ganhar a liberdade de expressão e que cresceram a ouvir que se deve respeito a todo o ser.
Tropelias todos fizemos. Fiz eu, fizeram os meus pais e os meus avós. Tudo com conta, peso e medida. Todos pisámos o risco uma vez por outra mas sempre acabámos a pagar a factura, sempre tivemos de mostrar a cara e responsabilizar-nos pelos nossos erros, às vezes até com cinco dedos bem marcados na cara.
Na adolescência vivia num prédio onde os meus pais eram o casal mais jovem, fazendo larga diferença de idade para os outros inquilinos e foi-me imposto desde sempre, o bom dia, o boa tarde, o abrir a porta a qualquer vizinho. Fosse ele de que religião, credo, idade ou raça fosse. Foi-me incutido que se deve respeitar os outros, independentemente do seu extracto social, das sua postura. Sempre cresci a ouvir dizer que a educação tem sempre lugar garantido. Hoje, o que presencio é uma total falta de respeito, não só pelos mais velhos, mas também pelas hierarquias, onde o que se vislumbra é os adultos a deverem reverencia aos adolescentes, tentando ao máximo simplificar as suas vidas e desculpabilizando todo e qualquer acto idiota praticado por estas criaturas.
Coitadinhas destas próprias criaturas, que são obrigadas a ir para a escola, para tirarem notas negativas e mesmo assim serem premiados com a última versão da playstation. No meu tempo negativa, dava direito a castigo no quarto sem puder ver televisão, que seria o mesmo, que hoje em dia, retirar os privilégios da internet. Onde é que se ouve um pai dizer que o filho não pode utilizar a internet, porque está de castigo? Quantas vezes ouvíamos, no nosso tempo, que fulano a ou b, estava proibido de ver televisão durante umas quantas semanas?
Havia tarefas a serem cumpridas diariamente, para simplificar a vida daqueles que nos sustentavam. Pôr a mesa, ajudar a lavar a loiça, limpar os pratos ou levar o lixo à rua. Hoje em dia os meninos não podem fazer nada em casa, porque estão muito cansados de terem ido às aulas. As mesmas nas quais tiram as negativas! Os pais é que têm a obrigação de tratar-los como realeza, com todas as mordomias. Só comem o que querem, impõem a mesada que querem e saem para a rua sem dar cavaco a ninguém.
A culpa não é desta geração morangada, é da geração anterior à minha, que se demitiu de incutir valores e responsabilidades ao filhos e não admite que ninguém dê por eles.
É por estas e por outras, que a noite de sábado teve mais valor. Não só por ter sido o convívio de aniversário de um bom amigo mas por ter terminado a noite rodeado de adolescentes, que ainda revejo com valores e respeito pelos outros. É caso raro mas todos os adolescentes com que lidei nessa noite souberam ser bem comportados, educados, com noção de hierarquia e mesmo em hora de folia souberam respeitar as poucas regras que impus, proporcionando uma noite agradável a todos. Para eles e para mim.
É nesta pequena minoria da geração morangada, que consigo encontrar esperança para um futuro responsável e com consciência social, pois não me apetece nada chegar a velho e ser tratado como lixo pelas gerações mais novas.
0 comments:
Enviar um comentário