The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Numa neblina, que cobre o amanhecer, o anjo desce do seu posto de vigia e pergunta: - Porque essa tristeza? O rapaz, debruçado sobre si, numa esquina escura, tentando por tudo passar despercebido, levanta os olhos, sem responder. O anjo insiste: - Porque estás assim?
O rapaz volta a mirar o anjo, sem nunca se deslumbrar com a sua presença e murmura: - Para que perdes tu, o teu tempo a olhar por mim? Volta a baixar os olhos, resguarda-se no seu interior, viaja para o seu espaço.
A sombra do anjo cobre o seu espírito, enquanto o rapaz percorre o seu caminho solitário. Mantém-se aninhado no seu canto, imbuído no espírito das questões que atormentam-no. Foram só uns segundos, parecia que uma eternidade se tinha passado. Ele levanta os olhos, fixa-os no anjo que permanecia estático na mesma posição, sem nunca arredar pé, buscando por uma resposta. Mirou-o durante uns segundos e devolveu-lhe o olhar condescendente com uma pergunta: - Porque não desistes Querida? Sim, ele sabia o nome por qual devia tratar o anjo que o protegia, sabia bem a sua missão, só não compreendia o porque.
- Olha para mim, olha para o que conquistei, olha para o que deixo para trás e responde-me com um lógica irrefutável que sou necessário, nesta existência disléxica. Sim somos um todo, somo uma existência acima do conhecimento global mas tenho a necessidade de saber o meu lugar e o meu papel. Quero contribuir, quero ser útil mas não compreendo a minha utilidade. A verdade? A verdadeira, cruel, sem rodeios? Não consegues açambarcar, não consegues assimilar e eu não quero magoar-te. Deixa-me, deixa-me na ausência de quem sou, do que é a minha existência, sem amparo desde que te tornaste uma presença espiritual, deixa-me na existência do inútil que sou, na dor, na solidão.
O anjo deixou escorrer uma lágrima, sorriu e murmurou: - Ainda acredito em ti. Levanta-te, olha bem para o teu futuro, olha mais além, olha para além da dor. Não, não estás só, olha bem para o caminho que percorreste e verás que estive sempre aqui, mesmo quando o silêncio imperava, acompanhei-te.
- Sim, tens razão. Não é o ponto de chegada, é ter sobrevivido ao caminho que mais interessa e agora vejo, vejo que todos perderam a fé, menos tu. Tu estiveste lá mas porque?
O anjo sorriu, genuinamente, esperou um segundo enquanto a ansiedade tomava conta do rapaz: - Porque no fundo, sei que tens potencialidades para chegares a muitas mais pessoas... ainda acredito em ti.