The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Um dia especial, um dia meu. Acordar lutando para sair da cama, sem destino. Abrir a janela e vislumbrar um sol radioso, um novo início. Ainda estremunhado, dou comigo prostrado no sofá a desfrutar dos cereais, enquanto devoro os episódios em falta. Lentamente, a tigela vai esvaziando e a batalha é vencida pelo ócio, que comanda o corpo a manter-se aninhado no sofá mais cinco minutos. Não há obrigações, não há programas, apenas o lazer de estar sem fazer nada.
Finalmente, após uma chamada telefónica, o ócio perde fulgor e obriga o corpo a verificar as mensagens. Assunto resolvido. Já que estás de pé, que tal ires arranjar-te? Sim, já passa da hora do almoço.
Refrescante, revitalizador. Até já canto meu, vou passear e usufruir do sol. A rua está deserta, compra-se o jornal e vagueia-se pelo bairro, até sentar na esplanada deixando o calor do sol, trazer consigo o bem-estar. A leitura é calma, pausada, sem pressas de onde ir, sem ter onde estar presente. De quando em vez, a leitura é interrompida para atender umas quantas chamadas e os ponteiros do relógio, seguindo o seu caminho, levam-me até ao final da tarde. O calor vai dando lugar ao fresco do fim do dia e está na hora de recolher ao abrigo. Um último gole e a promessa de retornar para a famosa francesinha.
Sabe bem, rodar a chave. Sabe bem este canto a que chamo de casa. Pousar as chaves, despir o casaco e deixar o corpo cair no sofá, para mais um bocado de nada, vazio de pensamentos, vazio de querer, que não seja querer estar aqui sem nada para fazer. O nó no estômago apresenta que já duas horas se foram e que é chegado o momento, para nova saída. Lentamente, a rua continua deserta, lentamente faz-se o caminho para o jantar. Sacia-se o desejo, sacia-se ainda mais a recordação daquela noite especial, que após várias desventuras, às cinco da manhã, saboreávamos o paladar do norte, numa esquina de Lisboa.
Subo a rua, a tentar moer o gosto pesado da refeição. Bebo o café na esplanada do amigo, agora vizinho, acompanhado por um Jameson, enquanto vou apreciando as luzes da cidade. As pessoas vão chegando, o espaço começa a ganhar vida e mais uma caminhada, que o fresco da noite, já convida ao retiro. Forço o corpo a vir passear ao ciberespaço e escrevo estas linhas enquanto o Che parte 1 e 2 aguardam a minha aprovação.
Vou voltar a aninhar-me no sofá, antes vou buscar mais um whisky e uns amendoins para acompanhar a sessão cinéfila e eis que chega a pergunta. O que fiz hoje? Dei um passo enorme, o mais difícil de assumir. Nem um pensamento até este momento. Nada mal para primeiro passo. Basta de adiar o inevitável, chega de ilusões, chegou a hora de largar mão. de vez Foi um dia tão agradável, no vai-e-vem lento e satisfatório de um sábado caseiro, que não me apetece ter mais do que isto, não preciso mais do que isto. Finalmente estou em casa e foi um dia especial, um dia meu.

Contagem Ao Segundo