The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Era uma vez um menino que sonhava com o mais puros dos sonhos. Era imensamente feliz, sem nunca notar que essa constante da sua vida, poderia um dia ter término. A sua pureza era imensa, levou-o a acreditar até ao início da sua adolescência, que as visitas do Pai Natal à sua casa eram reais, que as pessoas eram todas boas e a maldade só existia nos vilões da banda desenhada.
Era um menino simples, que vivia das coisas simples. Adorava os passeios de fim-de-semana com os seus pais, sempre com paragem para um bom almoço ou jantar. Adorava passar horas a jogar à bola ou às escondidas com os amiguinhos. Não tinha qualquer percepção geográfica, de como as suas raízes viviam a quilómetros de distância e não compreendia porque teimavam os outros meninos em dizer-lhe que era um forasteiro, quando as suas mais recônditas memórias o colocavam sempre no mesmo lugar. Adorava estar na escola, onde vivia as suas pequenas aventuras, entretinha-se com contas de somar e nem imaginava o que eram palavrões. Sentia-se deliciado com aqueles convívios de sábado, onde os pais e os amigos cantarolavam músicas acompanhados do violão, a criar peças de teatro ou somente a passar tempo em conversas banais.
O menino passava horas infindáveis a construir os seus legos, casas de madeira e a desmontar engenhocas, com a curiosidade infinita de perceber como funcionavam as coisas e com uma vontade férrea de ver algo criado por si. Adorava desenhar, era algo que lhe dava muito prazer e para o qual tinha muito jeito. Ria com um riso contagiante todas as brincadeiras e jogos, riso daqueles que dá satisfação de ouvir, pela pureza e satisfação emanadas. Era querido por todos e todos auguravam-lhe um futuro brilhante. Talvez, por viver numa terra de ambiente sempre ameno, detestava andar calçado e era uma carga de trabalhos para calçarem-lhe os sapatos que tanta liberdade roubavam. Um dia, como em tudo na vida, a sua rotina teve um final. Mudaram-lhe a vida, os hábitos, deixou os colegas para trás e voltou para a terra dos seus pais, a qual diziam-lhe também ser a sua.
Perdeu rapidamente a inocência e pureza, que o tornavam especial. A sua nova casa era fria, tal como o país. As pessoas falavam com um sotaque diferente, igual ao do seu pai. Embora fosse a terra onde tinha nascido, continuava a ser tratado como um forasteiro. Diziam agora que era pela sua maneira diferente de falar. Passou a conviver com os seus avós diariamente e essa era uma das coisas boas desta mudança. Foi parar ao liceu, com outro género de meninos dos que estava habituado a conviver, aprendeu a lidar com coisas que nunca tinha visto. Palavrões, malícia ou rejeição. Por momentos detestou a mudança mas foi aprendendo a lidar com as cicatrizes que o tempo nos guarda.
Os anos foram passando e o menino tornou-se homem. Os seus sonhos foram ficando pelo caminho sem se realizarem. O homem, já sem a inocência de menino, talvez com alguma maldade e rancor à mistura, devido ao presente não ser o futuro que acreditaram ser o da criança, defende-se do mundo e das pessoas, não possuindo a fé convicta na bondade dos outros, em que acreditava quando era inocente. A vida, foi-lhe apresentando bastantes amarguras e decepções, embora haja ainda vontade e esperança num futuro melhor, a verdade é que o presente não se apresenta bonito, não mostra estabilidade, nem mesmo algo construído para vislumbrar. Só mesmo uma vontade, mescla de coragem e casmurrice, para continuar a tentar ser feliz.
Um dia o homem, quis voltar às suas raízes, às suas lembranças. Assim teve possibilidade de o fazer. Rumou ao lar do menino que fora e por onde quer que passasse, havia sempre algo que vinha-lhe à memória. Recordações de meninice, coisas bonitas que aqueciam-lhe a alma, ao recordar momentos felizes. Surgiu a possibilidade, nessa altura de por lá ficar, de recomeçar a vida onde ela tinha parado. Por vários motivos o homem, teve receio. Teve receio de não encontrar a pureza que perdera, de voltar a sentir-se um forasteiro, de sentir-se acima de tudo sozinho. Foi um erro não ter tomado essa opção, agora o homem tem a percepção que deveria ter dado esse passo. Pouparia-se a mais amarguras que o destino reservou-lhe mas talvez ainda vá a tempo de mudar tudo isso, pois nunca é tarde para tomar a opção correcta. Hoje, sem realmente visualizar grande hipóteses de conquistar os seus sonhos, talvez seja na opção que não tomou à dez anos, que encontre a resposta para o seu futuro. Talvez o homem reencontre o menino, em toda a sua essência, se ao menos for audaz para abandonar a ficção e dar esse passo.

1 comments:

Anónimo disse... 4:42 da tarde  

Se fores...vai um pedacinho de mim também. Mas a tua felicidade acima de tudo e de todos.

Um beijo com muito Sol.
A tal do p.s. lol...

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