Hoje soube que o último dos Moicanos está de partida. Como há catorze anos, também me foi comunicado que a tua cara-metade estava de partida. Até à data do meu nascimento sei poucas coisas da tua vida, hoje tenho a percepção que é muito pouco, que sabe-me a pouco, queria saber mais sobre ti e já não vou a tempo.
Todas as histórias que sei, enchem de orgulho e fazem voar o imaginário, daquele que te admira desde menino. Sei que tenho sido um desapontamento, que merecias que tivesse sido muito mais para ti, quando durante muitos anos foste muito mais do que o meu padrinho, foste o meu pai. Desculpa ser quem sou, se de alguma forma isto servir para atenuar a tristeza e a desilusão que te posso ter causado.
Viveste histórias maravilhosas, talvez algumas já vieram deturpadas com o tempo quando chegaram ao meu conhecimento, mas não deixam de ser míticas. Nasceste numa família burguesa da Beira-Centro, vivias numa quinta ancestral muito bonita, onde a porta da casa ainda guardava a marca da espada dos Visigodos, como eu me lembro tão bem de lá ir em miúdo contigo e com a Querida. Adorava as nossas viagens, essa em particular ficou-me na memória, onde tive o prazer de conhecer o lugar onde cresceste, vi o olival de onde trazias aquele azeite caseiro que ainda hoje trago no paladar sempre que molho o pão no azeite. De deliciar-me a ver o castelo que o teu pai construiu para ti quando eras miúdo, hoje um restaurante conhecido nas redondezas. Lembro-me de ter pensado que devias ser um rei, só por teres um castelo. Mal sabia eu que eras um rei mas por motivos bem mais nobres.
Foste estudar em Coimbra para seres médico e orgulho-me tanto de poder partilhar contigo essa sensação que é muito peculiar e só pertence a quem lá estudou. Formaste-te em pediatria mas para ti ainda não era suficiente o pequeno salto de Nelas para Coimbra e partiste à aventura para Londres à procura de conquistar o mundo. Assim o fizeste, porque só mesmo tu poderias conseguir tal feito. De Inglaterra guardo a história de quererem que saísses da carruagem devido à tua tez escura e confundirem-te com um indiano. As aventuras ainda não te preenchiam e foste atrás do teu sonho. Acabaste no Congo Belga num lugar onde nunca tinham visto um branco, onde a civilização moderna estava a uns distantes, quinze mil quilómetros. Lembro-me de contares, já trôpego pelo álcool num dos meus aniversários, que tinhas casado com uma indígena nos rituais da tribo mas que quando acabou a tua campanha vieste sozinho. Voltaste para Portugal, talvez porque sabias que ainda não tinhas encontrado o que tanto procuravas.
Não sei exactamente como encontraste, como se conheceram mas sei que esperaste trinta anos para casar com o teu sonho e só por isso mereces o meu respeito e admiração. Tu que palmilhaste o mundo, que conheces todos os seus recantos, abdicaste de tudo, abdicaste de todas as aventuras que a vida ainda tinha para te oferecer, porque acreditavas no amor.
Em Lisboa, assentaste arraiais, sobre uma vista magnifica sobre o Tejo, que tantas vezes me deliciou a tomar o pequeno almoço, que a nossa Querida, nos oferecia. Tão bom é recordar o carinho que vocês me ofereceram, tão bom é recordar os nossos fins-de-semana em que tu ias dormir para o sofá, para eu dormir na cama com a nossa Querida. Em que tu, apegado ao dinheiro, como sempre foste, percorrias quinhentas tasquinhas antes de te decidires em qual almoçávamos, mas sempre, sempre. Uma dose para mim, outra a dividir entre ti e a Querida.
Tu não és só o meu padrinho, és o meu avô, o meu pai. Amo-te muito muito e só agradeço ter esta possibilidade de poder despedir-me antes do teu último adeus. Obrigado por tudo Padrinho. Vai-se o último dos Moicanos mas no fundo acredito que vais voltar a reencontrar o amor da tua vida, que perdemos à quatorze anos e tanta falta nos tem feito. Quando lá chegares, dá-lhe um beijo meu e diz-lhe que sinto muitas saudades dos nossos fins-de-semana.
Todas as histórias que sei, enchem de orgulho e fazem voar o imaginário, daquele que te admira desde menino. Sei que tenho sido um desapontamento, que merecias que tivesse sido muito mais para ti, quando durante muitos anos foste muito mais do que o meu padrinho, foste o meu pai. Desculpa ser quem sou, se de alguma forma isto servir para atenuar a tristeza e a desilusão que te posso ter causado.
Viveste histórias maravilhosas, talvez algumas já vieram deturpadas com o tempo quando chegaram ao meu conhecimento, mas não deixam de ser míticas. Nasceste numa família burguesa da Beira-Centro, vivias numa quinta ancestral muito bonita, onde a porta da casa ainda guardava a marca da espada dos Visigodos, como eu me lembro tão bem de lá ir em miúdo contigo e com a Querida. Adorava as nossas viagens, essa em particular ficou-me na memória, onde tive o prazer de conhecer o lugar onde cresceste, vi o olival de onde trazias aquele azeite caseiro que ainda hoje trago no paladar sempre que molho o pão no azeite. De deliciar-me a ver o castelo que o teu pai construiu para ti quando eras miúdo, hoje um restaurante conhecido nas redondezas. Lembro-me de ter pensado que devias ser um rei, só por teres um castelo. Mal sabia eu que eras um rei mas por motivos bem mais nobres.
Foste estudar em Coimbra para seres médico e orgulho-me tanto de poder partilhar contigo essa sensação que é muito peculiar e só pertence a quem lá estudou. Formaste-te em pediatria mas para ti ainda não era suficiente o pequeno salto de Nelas para Coimbra e partiste à aventura para Londres à procura de conquistar o mundo. Assim o fizeste, porque só mesmo tu poderias conseguir tal feito. De Inglaterra guardo a história de quererem que saísses da carruagem devido à tua tez escura e confundirem-te com um indiano. As aventuras ainda não te preenchiam e foste atrás do teu sonho. Acabaste no Congo Belga num lugar onde nunca tinham visto um branco, onde a civilização moderna estava a uns distantes, quinze mil quilómetros. Lembro-me de contares, já trôpego pelo álcool num dos meus aniversários, que tinhas casado com uma indígena nos rituais da tribo mas que quando acabou a tua campanha vieste sozinho. Voltaste para Portugal, talvez porque sabias que ainda não tinhas encontrado o que tanto procuravas.
Não sei exactamente como encontraste, como se conheceram mas sei que esperaste trinta anos para casar com o teu sonho e só por isso mereces o meu respeito e admiração. Tu que palmilhaste o mundo, que conheces todos os seus recantos, abdicaste de tudo, abdicaste de todas as aventuras que a vida ainda tinha para te oferecer, porque acreditavas no amor.
Em Lisboa, assentaste arraiais, sobre uma vista magnifica sobre o Tejo, que tantas vezes me deliciou a tomar o pequeno almoço, que a nossa Querida, nos oferecia. Tão bom é recordar o carinho que vocês me ofereceram, tão bom é recordar os nossos fins-de-semana em que tu ias dormir para o sofá, para eu dormir na cama com a nossa Querida. Em que tu, apegado ao dinheiro, como sempre foste, percorrias quinhentas tasquinhas antes de te decidires em qual almoçávamos, mas sempre, sempre. Uma dose para mim, outra a dividir entre ti e a Querida.
Tu não és só o meu padrinho, és o meu avô, o meu pai. Amo-te muito muito e só agradeço ter esta possibilidade de poder despedir-me antes do teu último adeus. Obrigado por tudo Padrinho. Vai-se o último dos Moicanos mas no fundo acredito que vais voltar a reencontrar o amor da tua vida, que perdemos à quatorze anos e tanta falta nos tem feito. Quando lá chegares, dá-lhe um beijo meu e diz-lhe que sinto muitas saudades dos nossos fins-de-semana.
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