The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Cada um adapta-se às situações adversas numa maneira muito própria, muito sua. Conseguimos encontrar o equilíbrio para atestar as forças de formas variadas, todas elas são válidas, tendo na finalidade o mesmo objectivo. A superação da alma e das dificuldades. Há quem recorra à psicologia para enfrentar os seus problemas, a religião também se torna por vezes solução, existem outros que olham para os problemas do quotidiano e sentem a necessidade de recorrer aos que lhe são próximos para buscarem a vontade, outros há que guardam para dentro e rebuscam no seu orgulho a força para enfrentar os desafios. Outros inspiram-se nas experiências passadas de outrem para revitalizarem-se. No fim todas as fórmulas são válidas, desde que o resultado final seja a positividade de recarregar a vontade, do ensejo de superar as barreiras da vida. Mas o que fazer quando o grito sufoca no interior?
Quando temos a vontade de bramar aos quatro ventos a angústia que nos tolhe o interior e sentimos que o grito mudo, não alcança um destinatário? Qual será a solução para enxotar o peso que nos remói o pensamento? Não, este texto não é a solução retorcida que encontrei para um apelo. Apenas um recordar de momentos vividos, de recordar um passado que não se quer existencial.
Hoje encontro-me sentado no café, isolado na sala do fundo a beber uma cerveja, de phones nos ouvidos, escrevendo estas linhas, à espera que o mundo mude e me mostre um passado mais feliz de mim mesmo. Pois olho para trás e fiz tantas asneiras, repeti-as e continuo a não encontrar soluções para os gritos sufocados que eram presença assídua do passado. Embora tenha muito orgulho das avalanches que consegui superar, também tenho muita vergonha de ter passado por momentos menos felizes, mais duros na existência de um orgulho muito próprio. Durante muito tempo fui uma pessoa triste, inacabada e entristeci muitas pessoas. Sei que nunca serei o que almejaram para mim e já aprendi a viver com isso. Sei que poderia chegar bem mais longe, sei que tenho talento em muitas áreas e que tenho um arte inata para cativar pessoas. No fundo sei muito, sei demais.
As desculpas para a inexistência de sucesso foram muitas. Ao início era pela idade, depois ser inexperiente demais para as dificuldades que enfrentei, seguiu-se não merecer todo o empenho que colocaram em mim. Houve alturas que a falta de sorte também fez parte do rol de desculpas e por fim resignei-me aos factos e à realidade. A vida é assim, é difícil e os erros pagam-se caros, principalmente com o corpo! De dentes cerrados aceitei a realidade dos meus erros, sorri e segui para a frente. Porque nada paga um sorriso e por isso mais vale passar a vida a sorrir.
Maior parte do tempo, passamos a preocupar-nos com o que foi e com o que poderia ser, quando a nossa maior preocupação deveria ser: - Como vou tornar o dia de hoje especial? É assim que tento todos os dias despender o meu tempo e emoções. Com aqueles de quem gosto, com aqueles que principalmente gostam de mim por quem sou e que estão sempre presentes para tudo. Há um trabalho de anos a realizar, num formato de compensação. No fim há momentos em que ainda consigo ser o que idealizaram, pequenos momentos de ilusionismo quando menos se espera, tal fénix renascida das cinzas, em que deslumbro por breves segundos.
Os gritos sufocados, nunca foram superados, continuam bem guardados no meu interior. Muitos mais hão de aparecer e juntar-se aos que cá estão, no longo percurso da estrada da minha vida mas o interior tornou-se infinito e contempla uma complacência infinita. Olho para trás e não quero saber das dificuldades. Olho para a frente e não quero saber das dificuldades. No fundo almejo pelo dia em que o meu inconsciente só me deixe recordar o que de bom passei, porque no mal encontro muitas asneiras, muitos pecados, muitas lágrimas e sofrimento. Desses momentos não reza a história, só gritos sufocados.

Contagem Ao Segundo