The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Sábado. O dia começou com uma reunião com o partido socialista de Bucelas. Para as horas que obrigaram-me a levantar, disse das poucas e boas! Detesto jogos de bastidores, não se coadunam com a minha postura de vida, de ser directo e não ter papas na língua. Acabei por debitar o que achava que estava errado, quais as directrizes mais sensatas que o partido deveria seguir e assim por diante! A realização da reunião tinha como objectivo fazer-nos apoiar uma outra candidatura para a concelhia de Loures. Claro está, com proveitos pessoais para a presidente de sede. Não fui na cantiga, bem como o resto dos convidados e a senhora bem teve de se contentar com um rotundo não!!!
Saí da reunião e seguia em direcção a casa, quando sou abordado pelo Nélson. Já não o via a uma semana e queria colocar a conversa em dia. Toca de ir para a sede. O senhor Cardoso, ao ver-nos entrar, sacou logo de duas médias e não tive coragem para dizer que não. Como a primeira caiu bem, acabei por juntar mais duas à colecção antes de seguir viagem para Lisboa. O Nélson, dispôs-se a dar-me boleia e ainda acabámos por fazer mais uma paragem pelo caminho.
Cheguei ao Super-Chef atrasado quarenta e cinco minutos, o Hugo e a Carla já estavam sentados. O intuito do almoço era combinar com o gerente do restaurante, o almoço dos antigos alunos do Académico. Azar dos azares, o gerente tinha acabado de sair e nem por telefone era possível falar com ele, pois tinha o telefone desligado! Bem acabámos por almoçar e como os planos do Hugo e da Carla tinham também levado um revés, ela acabou por estar disponível para acompanhar-me para a visita ao Museu Berardo, no CCB. O Hugo deu-nos boleia e combinámos de nos encontrar ao fim da tarde nos pasteis de Belém.
Eu tinha reservado um lugar na conferência com o Joe Berardo, mas já chegámos atrasados uma hora. Com muita cara-de-pau, algo que está-me no sangue. Passei ao lado da imensa fila de espera e acerquei-me do balcão e disse para o recepcionista: - "Boa tarde, eu venho para a conferência com o Comendador Berardo, às 16 horas." Claro está que eu sabia que a conferência tinha sido mudada para as duas e meia, mas fiz-me de ingénuo! Pediram-me muitas desculpas por não me terem contactado! E o rapaz encaminhou-nos para o resto da sessão! A Carla, ficou a perceber, qual é a minha lata para estas situações! Não pagámos pevas e ainda fomos acompanhados pelo recepcionista! Nesta coisa da sem vergonha sou um verdadeiro artista!
Ainda assim, tive tempo para fazer uma pergunta ao Joe Berardo, à qual soube fugir com muita diplomacia, o que já seria de esperar! Levei para casa uma brochura assinada e um bacalhau com a desculpa da resposta não ter sido a mais esperada! Percorri a colecção de lés-a-lés e embora tivesse esperado mais do período fim século XVIIII, início de XIX, consegui ficar bastante agradado com o período Americano. os dois quadros de Picasso passa-se por eles sem se perceber que o são. Do Dali só uma peça. Dos tugas, tirando a Paula Rego, que adorei os simbolismos, fiquei bastante frustrado... Há tipos que fazem uma chamada arte, que eu não consigo conceber que assim seja chamada! Mas pronto, à sempre uma alminha, que acha os tipos geniais!
Encontrámos-nos com o Hugo nos pasteis, vinha acompanhado da Marta e se não fosse pelo calor que se fazia sentir teríamos obviamente permanecido mais uma hora na cavaqueira! Mas o abafado no interior só nos convidava a dar corda ao sapatos! Ainda ficámos uma boa meia-hora no exterior, na conversa enquanto o amigo da Marta não chegava para lhe dar boleia para o concerto do Ricky Martin. Epá!!! Eu pelo meu lado, ainda tinha tempo até o concerto do Represas e estava a gostar da conversa.
Fez-se as despedias, após alguma conversa com o amigo da Marta, sobre a exposição, ao qual o Hugo e a Marta olhavam com um ar entediado e seguimos para o Campo Grande. Fiz-me ao metro até ao Rossio. Fui subindo até ao Castelo, apreciando a paisagem e pensando como esta cidade é bonita e tão pouco revisitada pelos seus habitantes. Gosto do pitoresco das vielas e dos cafés desta zona da cidade. Subi as escadas e cheguei ao Memórias. Parei para beber um imperial e após alguma conversa com o dono do bar que é meu conhecido, segui o meu caminho passando pelo Chapitô e finalizando na entrada para o Castelo. Fui levantar o meu bilhete e sentei-me na esplanada a desfrutar dos últimos raios de sol sobre o Tejo.
Entrei já passava das dez. Sentei-me a meio, a fumar um cigarro. A quatro, cinco cadeiras ao lado tinha por companhia, o António Costa. Só famosos! Eu e ele!!! (modestia à parte!). Entra o António Zambujo para a primeira parte. Artista que não conhecia mas que fez com que ficasse com vontade de conhecer mais do seu trabalho. Fadista que fisicamente e vocalmente, se compara muito com o André Sardet. Gostei do repertório, fados antigos mas eruditos, nada dos chavões habituais. A seguir veio o Represa e puxou dos galões. Os grandes êxitos: Acontece, Da Próxima Vez, Mariana, Colibri (Pureza e Desejo), Fora do Tempo, Memórias de um beijo (a minhas preferida). Coroados com o Feiticeira, no encore em dueto com o António Zambujo. Cada música trouxe-me à memória sempre a mesma pessoa, mais parecia que tinha sido de propósito! Finalizaram o serão com a noite do Max. Gostei bastante mas soube-me a pouco, uma hora e quarenta e cinco que pareceram passar-se num ápice. É sempre assim quando estamos a fazer algo que gostamos.
Quando olhei para o relógio fiquei alarmado! Quase meia-noite e a última camioneta para Bucelas a partir daí a uma hora. Desci até ao Rossio num instante. A descer todos os santos ajudam! Consegui chegar mesmo em cima da hora à paragem, por sorte a camioneta estava atrasada. Contou-me o motorista que tinha sido por causa do concerto do Tony Camionetas em Loures. Eu com um dia excelente e o Tony Carreira é que enche! Não entendo este povo!
Fiz o resto da viagem a dormitar e domingo, resguardei-me nos lençóis a ler o meu livrito... Foi um bom dia, recheado de cultura e como dizia o pin que trouxe do CCB, culture is life.

Quem foi que provocou vontades
E atiçou as tempestades
E amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais...

Contagem Ao Segundo