The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida


Existem momentos nesta vida, sensações e imagens que não se explicam. Não existe lógica nos acontecimentos, nas ideias mas sabemos que eles existem. É como um católico praticante acreditar piamente na existência de Deus, sem nunca o ter visto.


Se eu pudesse voltar a página da vida àquele dia, voltaria sempre ao mesmo momento. Àquela fracção de segundo antes de tu apareceres para o mundo. Porque aquela sensação ninguém me rouba, ninguém apaga. Vai sempre estar comigo. Tenho dado por mim ultimamente a sonhar de olhos bem abertos, revivendo aquele segundo. Lembro-me como se fosse hoje, do calor que senti, do aperto que me causaste no peito, das lágrimas que jorrei. Toda a emoção de te saber.


Tenho passado muito tempo a pensar em ti e no teu dia, se calhar porque ele também se aproxima e mais uma vez não vou poder estar contigo. Desta vez por motivos bem mais alheios à minha vontade, mas a promessa que te fiz mantém-se e é para cumprir. Acredita que se me deixarem vou fazer por cumprir-la.


Fará oito anos em Agosto. Andava cansado, sem dormir. Estava no carro, com o teu avô. Pedi-lhe para me acordar assim que houvesse alguma novidade. A tua mãe estava lá dentro, tu não querias nascer por nada, só te aguardavam para o princípio da manhã e eu não podia entrar para estar perto de vocês os dois. Achei que poderia dormitar um pouco e pôr o sono em dia, porque nos dias anteriores nada tinha descansado, por passar o tempo sempre preocupado contigo e com a tua mãe. Dormi umas duas horas e acordei sozinho no carro. Fiquei bastante preocupado, como se já estivesses por cá e ninguém me tivesse chamado. Encontrei a tua avó, na entrada, que me disse para subir e dar um beijo à tua mãe, pois estavam a preparar-se para ti. Subi o elevador e sentei-me sozinho num dos bancos a aguardar por vocês. Em frente estavam duas senhoras que também esperavam. Enquanto elas iam falando eu olhava ansiosamente para a porta do elevador à espera de ver a tua mãe passar. Foi aí. Foi nessa altura. Tenho a certeza que esperaste por mim, como se toda a complicação que criaste, tivesse por razão a minha presença, naquele momento.


Senti um aperto no coração, algo se passava e eu não estava a perceber, aquelas coisas que o pai tem e que por norma se chama instinto. Chama-lhe o que quiseres, foi algo diferente do que alguma vez sentira. Forte, muito presente, uma certeza uma sensação que no segundo seguinte se clareou na minha cabeça. Um choro veio lá de dentro, as senhoras comentaram: - Mais um que nasceu! E eu soube imediatamente que eras tu! Não tinha lógica! A tua mãe deveria estar a subir no elevador, mas ninguém me conseguiu tirar da ideia que eras tu. Estava sozinho, vivi esses momento sozinho, vivi-o contigo, só os dois o sabemos.


Tinha um sorriso na cara e lágrimas nos olhos mas tentava encontrar uma explicação para aquele momento, uma lógica porque teimava eu que eras tu. Não era possível, a tua mãe ainda não tinha entrado! Estava nesta divagação e sai de rompante do bloco a tua avó, a pedir-me para ir ao carro depressa buscar a máquina fotográfica. Descemos os dois e só a meio caminho é que ela confirmou-me. Tu já tinhas nascido! Eu senti-te, não sei-o explicar ou dar uma razão mas a verdade é que eras tu. É um elo só nosso, que por mais que queiram não vão conseguir destruir. O sangue é mais forte que tudo e este elo será sempre eterno, meu filho.

Contagem Ao Segundo