The Real Johnny Bravo

Histórias de um livro chamado vida

Foi um mês e meio de internamento com resultado final satisfatório. Comecei por ser internado em São Lázaro onde dei entrada pelas oito horas da manhã de dia 6 de Junho, após uma directa a passear por Lisboa. A primera operação ocorreu pelas onze e meia desse mesmo dia e para meu espanto acordei às três da tarde, sem dores e muito bem disposto. A operação correu muito bem, a infecção estava localizada, o que tornou tudo mais fácil para os ortopedistas.

Durante a estadia em São Lázaro fui criando uma empatia com a maioria do pessoal do hospital, havendo mesmo alguns enfermeiros que me conheciam de anteriores "visitas". Pela minha enfermaria passaram, também bons colegas. Tirando duas excepções o senhor Manuel, que obrigava os restantes companheiros de enfermaria a redobrada vigilância, à noite, às suas investidas à casa-de-banho e o senhor Gentil, que de gentil tinha pouco ou nada. Fulano taciturno, que foi incapaz de um bom dia ou olá, durante a sua estadia, aos restantes colegas. Esteve sempre do contra em qualquer decisão e para melhorar a situação, à noite dedicava-se ao nudismo e ao ressonar em altas porpoções, levando-me mesmo a mudar de enfermaria! Mas também fiz bons amigos, como o Pedro, o Nélson, o Rui, o Greg ou o Hugo.

De tudo se passou um pouco em São Lázaro e com o passar do tempo, fui tendo regalias que não eram habituais ao comum dos doentes. Era o único que recebia uns queijos e marmelada para acompanhar o lanche, podia quando certos enfermeiros estavam de serviço, usufruir da internet do gabinete de enfermagem e chegava a estar com as visitas até às dez da noite. Para isso acontecer também contribuia a minha postura com o pessoal clínico, pois não fui doente de dar trabalho e mostrava-me sempre disponível para auxiliar algum doente que necessitasse de apoio. Cheguei a pedido de enfermeiros, a ir visitar doentes para levantar-lhes a moral.

Foi assim que conheci o Greg e através dele o seu amigo Wilson que trabalhava num restaurante japonês. Consegui convencer-lo a trazer-me sushi ao hospital e um belo dia, deliciei-me! Outro episódio giro, passou-se com a Marta Ventura (sim! Essa mesma voz da rádio renascença!), amiga de colégio que certo dia, após muita insitência apresentou-se no hospital com um taparuer de caracóis! Sim caracóis! Sentado na cadeira de rodas em pleno pátio ao sol de final de tarde, só faltava a mesa e a cerveja para compor o quadro. O engraçado, era ver as pessoas a passarem com olhar incrédulo para nós!

Passadas cinco semanas após a primeira operação, sou transferido para o serviço da plástica em São José. Assim que cheguei ao serviço, assustei-me! Parecia que tinha saído do Hotel de cinco estrelas para a pensão da Tia Mariquinhas! Todo o serviço está a cair aos bocados, em todo o serviço só existia uma televisão. Material médico estava sempre em falta, bem como qualquer outro material. Cheguei mesmo a ter de limpar-me a lençóis após tomar banho à gato. Na casa de banho, que não estava preparada para receber pessoas com deficiências, o tecto parcialmente não existia e só me vinha à memoria a história que vivi, neste mesmo hospital, quando à dez anos o tecto me caiu em cima da perna! Mas a melhor de todas, foi quando cheguei ao serviço. Pedi uma garrafa de àgua, ao qual me responderam que só podiam dar aos doentes de queimados. Logo aí achei estranho, mas calei-me. Quando chegou o jantar, constactei que não trazia bebida nenhuma e disseram-me que naquele serviço, não havia bebida à refeição. Agora pergunto eu. Se não temos direito à água sem bebida às refeições um doente bebe o que durante o internamento!?

Para cúmulo dos cúmulos, aconteceu-me um episódio caricáto. Quando comecei a poder levantar-me para a cadeira de rodas, que por sinal não se desfez por pouco, comecei a ir ao café do hospital. Certo dia fui ter com a minha mãe ao café, por onde me demorei cerca de uma hora. Ao retornar ao serviço, o único elevador que dá acesso ao serviço de cirurgia plástica, estava avariado! Só mesmo comigo! Para melhorar ainda o cenário, a minha mãe quando se dirigiu ao serviço para comunicar que o elevador não funcionava, sabe que tenho alta por não me encontrar no serviço! Do melhor! com tanto doente que vai ao café, tinha de ser logo comigo que vieram de implicar! Como fervo em pouca àgua nestas situações, travei-me de razões com a directora do serviço, o que não abonou muito a meu favor! Acabei por ter alta na segunda-feira passada.

Gostava de deixar aqui o meu obrigado a todos aqueles que compareceram no hospital para me visitar ou telefonaram para saber como estava a passar. Tendo de particularizar este agradecimento para a Marta Ventura e o Bruno Santos, companheiros de conversas infindáveis e à Sónia Mendes que assumiu o papel de mamã durante a minha estadia no "spa".

1 comments:

Anónimo disse... 3:07 da manhã  
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